Os olhos tocam-se

Passou-se em Faro, mas podia passar-se noutro local qualquer. Mesmo antes de uma falta sofucante, lá estávamos nós, juntos e unos. Peguei-te na mão como se fosse um remo, acariciei-a como se fossem penas. Olhámo-nos como se fossemos gémeos, e debaixo de água dos olhos e coração, cavamos um túnel que ligava penínsulas, ilhas e continentes, ligava Faro a Lisboa, com infâncias comuns e jogos de rodas. «Lindas faluas, que lá vão, lá vão...» e um lenço branco como todos os lençóis em que dormimos.
Sobre meu coração, pousava uma mão de mulher, sobre essa mão descansava a minha. Carícias lentas, ao ritmo de brisas, trigo e lezírias do Alentejo, da mesma cor. olhos nos olhos, sorrisos que se cuidavam. Ruínas de pedras sobrepostas, e um entendimento de olhares. A minha mão que cobria a tua. Devagarinho, dedos entrelaçados. Nesse momento, ensinaste-me algo que não houve professor, nem faculdade que mo tivesse dito antes. Afinal é possível que os olhos se toquem.
PS: Já passamos por sismos que nem damos por isso, e tão concentrados que estamos um no outro. Notável.
Ivo Almeida

0 Comments:

Post a Comment



Mensagem mais recente Mensagem antiga Página inicial

 

Simbiose Perfeita © 2008. Blogger Template by Blogcrowds