Assim Tanto

Vi-te passar...
Estavas numa caixinha, fechada por ti...
Arrastavas-te pela cidade,
Deambulavas,
Perdido apenas, perdido sem fim...

Por cima de ti, chuva caía,
Pesada e fria...
Rios de vida escorriam-te pela face...
E contornavam os teus doces lábios,
Que de doces, só os conheço na imaginação...
Que de doces, tanto me aquecem o coração...

Era uma negra noite,
Que apenas com a luz de candeeiros,
E de estradas sobressaia...
A cor cuidadosamente figurava-te,
silenciosamente contornavam-te...
Porque, ainda que estivesses de cabeça baixa,
De olhos fixos nas pedras da calçada...
A pobre temia-te...
Poderia ser sugada, e perder o seu brilho...
Tu passavas sem frio, intacto...
mas perdido de ti, perdido sem fim..

Receosa, eu, puxo-te pelo braço,
Para que te abrigues ali também...
Por de baixo daquela árvore,
Imensa e majestosa...
Cheia de sonhos, virtuosa,
De tronco escuro e rugoso,
Que de tão imperfeito, era monstruoso...
Aquela árvore, sim, que tanta gente já viu passar,
Sem que soubessem, ali também parar,
Para que por breves instantes, tivessem o prazer de a contemplar.

Sem controlo pelos meus movimentos,
Puxo a manga da camisola,
Era de malha, era rosa...
Estava embaraçada e nervosa...
Devagar, o mais lento que podia...
O mais lento que sabia,
De suave...
Passo-a pelo teu rosto,
Como se quisesse absorver todas as tuas magoas,
Todas as diferenças...
Todas as tuas dores de infância,
As dores da alma,
Até mesmo aquelas feridas que já nem doem,
Apenas deixam cicatrizes, recordações à pele...
Para que a vida não se esqueça,
Que também elas tiveram a sua história em nós...
Também elas o seu papel...

Desculpa, sei como gostas da tua privacidade meu lindo,
Mas escasseei de forças, e não me impedi...
Não consegui conter a minha teimosia,
Fui caprichosa...
Tirei a fotografia,
Imortalizei aquele momento,
Em que pela primeira vez te vi,
E que sem saber
Sem querer...
Te resgatei de todo o cansaço,
A angustia de viver,
Viver, sem viver...

Posso te confessar?
Quando abri a caixinha...
Desculpa, eu sei que prometi,
Mas posso fingir que me esqueci?
E contar?

Posso confessar?

Sabes quando abri a tal caixinha?
Aquela em que te trancavas de ti?
E te vi tão frágil assim?
Foi ai meu lindo, que percebi...
E foi, tão de repente quanto descrevi...
Foi como um choque!
Mas foi real tudo o que senti...

A verdade no teu gesto,
A pureza no teu olhar,
Que tímido... também ali, se abrigava, desta vez em mim...
Aí percebi, que não eras só tu que vivias a deambular...
Descobri a peça do puzzle que estava a faltar,
A que faltava para completar...
As 1001 histórias que haviam para contar...

Agora diz-me meu lindo?
Tens assim tanto medo de te apaixonar?
Perdoa-me tanta precipitação, em não me precipitar...
Mas como já te disse antes,

Gosto tanto.. de ti gostar...
Responde bebe, tens tanto medo assim de te apaixonar?...

Quando o amanhã chegar...
um pouco mais,
um pouco mais de ti já vou gostar...
Não sei controlar,
Mas cresce assim...
Cresce sem saber como crescer...
E cresce sem parar...
De dia para dia,
Cresce...
Cresce e não sabe parar...

Boa noite meu lindo...
Agora, um pouco de ti, levo comigo para recordar...*

Andreia Ramos

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